quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Leituras: O amante de Lady Chatterley #1

A nossa época é essencialmente trágica, e, por isso, recusamo-nos a vivê-la como tragédia. O cataclismo deu-se, estamos rodeados de ruínas, começamos a construir outras maneiras de viver, a alimentar novas pequenas esperanças. É uma tarefa difícil, já não há nenhuma estrada suave em direcção ao futuro: passamos ao lado dos obstáculos, ou saltamos-lhes em cima. Temos de viver para além de todos os céus que desabaram sobre as nossas cabeças.
Esta era, mais ou menos, a posição de Constance Chatterley. A guerra tinha sido como um tecto que lhe caísse em cima, e ela compreendera que seria necessário viver e aprender.
Tinha casado com Clifford Chatterley em 1917, durante o mês de licença que este passara em Inglaterra, mês esse que foi a sua lua-de-mel. Ele regressou à Flandres, de onde, seis meses mais tarde, voltava, mais ou menos em pedaços. Constance, mulher dele, tinha então vinte e três anos e ele vinte e nove.
O seu apego à vida era maravilhoso. Não morreu, e foi possível tornar a juntar os pedaços. Durante dois anos viveu nas mãos dos médicos, depois foi considerado curado e pôde voltar à vida. Mas metade do seu corpo, dos quadris para baixo, estava paralisada para sempre.

O amante de Lady Chatterley,  D. H. Lawrence


7 comentários:

  1. Mas sobraram-lhe as mãozinhas, sim?

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    1. «Era uma pessoa estranha, viva e cordial, quase alegre, com uma cara rosada e saudável e uns olhos azuis claros e provocantes. Tinha ombros largos e fortes, e umas mãos potentes.»

      Parece que sim.

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  2. Li isso aqui há um ano atrás, no original em língua Inglesa. É um grande clássico e tal mas não me impressionou. Achei até um bocado seca. Percebo, contudo, tal como noutros clássicos de que não gostei especialmente (Crime e Castigo, Catcher in the Rye, etc) porque é que na altura foi tão apreciado. Era uma pedrada no charco.

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    1. Uma pedrada no charco em 1928. Livro proibido, aí lhe reside o encanto. Algum motivo especial houve para que tenha sido D. H. Lawrence a despertar Anais Nin.

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    2. Burguesia socialista vs Classe operária. Aristocracia decadente. Hipocrisia moralista.

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    3. A propósito da aristocracia decadente e mistura de classes, basta recordarmos que apenas uma década após a publicação deste livro, Eduardo VIII (teve de) abdicou do trono para poder casar com uma americana divorciada.

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  3. Parece que estamos sintonizadas... ia ler esse livro...tenho-o na estante há séculos e achei que era altura de lhe tirar o pó...mas a menina adiantou-se... :P

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