domingo, 21 de dezembro de 2014

Leituras: O Elogio da Mulher Madura #1


Este livro é dirigido aos jovens e dedicado às mulheres maduras
 e é meu propósito debruçar-me sobre as relações entre ambos.


(...) Algumas vezes, quando ficava demasiado excitado por presenciar alguns preliminares, tinha o hábito de protestar contra a injustiça daquilo tudo. «Quando precisam de mim para vos arranjar os engates está tudo bem, mas quando toca a fornicar já sou um miúdo!»

       Eu também queria o meu quinhão. Estava tão empenhado a traduzir frases como «pergunta-lhe se ela é apertada ou larga», estava tão inflamado pelas conversinhas e carícias que me encontrava em estado de permanente erecção.

Raramente deixava escapar uma oportunidade de me esgueirar para dentro dos aposentos de um oficial, assim que ele de lá saía com uma mulher. Nas casernas dos soldados havia sempre alguém por perto, mas nos alojamentos privados dos oficiais por vezes podia examinar tudo sem ser perturbado. Tentava descobrir pistas nos leitos desfeitos, nas garrafas de álcool meio vazias, nas pontas de cigarro sujas de bâton, mas, acima de tudo, nos odores que ainda pairavam no lugar. Uma vez até encontrei um par de calcinhas de seda branca e cheirei-as avidamente. Tinham um odor peculiar mas agradável. Não tinha meio de o saber, mas tinha a certeza de que era o cheiro da coisa da mulher, e pressionei as calcinhas contra as narinas e cheirei-as por um bom bocado.

Recordo apenas uma ocasião em que senti que podia ficar criança por mais algum tempo. Foi quando observei um soldado que, tendo contraído uma doença venérea, teve de levar várias injecções mesmo no pénis. Enquanto os seus camaradas estavam por ali, sentados na caserna, rebentando de riso, ele andava para trás e para a frente, entre as duas filas de camas, ainda curvado com dores e sempre com as mãos entre as pernas. Tinha os olhos marejados de lágrimas e berrava numa voz cavada: «Nunca mais o espeto noutra que não seja a minha mulher! Foi a última pega em que o meti até ao fim da minha vida!».

Passaram vários dias antes de voltar a matutar num modo de fornicar com uma das senhoras a quem servia de intermediário.



O Elogio da Mulher Madura, Stephen Vizinczey - Editorial Presença, [p. 25 - 26]


Sem comentários:

Enviar um comentário